#SérieDoMês: Um triplo assassinato e a suspeita perfeita.

13:30

Olá, Refracionários!!

E como hoje é sexta, está aí a segunda resenha da Série do Mês. Confiram!


Título: A Menina Que Brincava Com Fogo
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2006
Avaliação: 4/5 primas

Como falamos na primeira resenha da saga Millennium (Os Homens Que Não Amavam As mulheres), o primeiro livro da série tem um arco fechado, ou seja, a narrativa dele possui introdução, desenvolvimento e conclusão, sem a necessidade de ler os próximos livros para saber o desfecho da história. Porém, alguns fatos ocorridos no primeiro livro serão retomados e se tornarão os motivos para os eventos narrados em A Menina Que Brincava Com Fogo.

Dois anos após a aventura de Lisbeth Salander e Mikael Blomkvist em busca do paradeiro de Harriet, a revista Millennium está prestes a publicar uma edição que irá denunciar o tráfico de mulheres na Suécia. Uma rede de corrupção que se estende em âmbito policial, jornalístico, político e judiciário.

Entretanto, pouco tempo antes da edição vir à público, o jornalista Dag Svensson e sua companheira Mia Bergman (autores das denúncias) são brutalmente assassinados. Na mesma noite, o atual tutor legal de Lisbeth, Nils Bjurman, também é encontrado em seu apartamento morto a tiros.

Para Mikael, não são apenas essas as surpresas. Por incrível que pareça, a arma do crime possui as digitais de Lisbeth Salander e, para a polícia, ela passa a ser a suspeita número um do triplo assassinato. A partir de então, inicia-se uma caçada a Lisbeth, mocinhos e vilões se envolvem em uma corrida mortal pela sua captura. Enquanto o mundo inteiro está contra Salander, ela só poderá contar com a ajuda da última pessoa que deseja ter contato no mundo e a única que acredita em sua inocência, o Super-Blomkvist.

Capa do livro "A Menina Que Brincava Com Fogo"
Com relação a estrutura e estilo de escrita, Larsson vai repetir no enredo desse segundo volume a fórmula do primeiro: Construção do perfil psicológico detalhado de Salander, desenvolvimento de personalidade altamente descritivo, introdução dos fatos sobre a Suécia para contexto histórico, as críticas sociais, quebra de esteriótipos e os clichês dos romances policiais. Mas as doses de tensão, adrenalina e mistério serão extremamente intesificadas com relação ao primeiro exemplar da série.

No primeiro livro da saga, Lisbeth nos é apresentada com uma mulher antissocial, reclusa e esquiva. Todos que a conhecem julgam que seja uma pessoa desequilibrada. Salander tem um passado conturbado e cheio de mistérios que é denomidado como "Todo o Mal". Entende-se que certos eventos ocorridos na infância de Lisbeth fazem com que a menina seja considerada mentalmente incapaz e colocada sob tutela pelo Estado.

Talvez a crítica mais acentuada nessa narrativa seja a imposição de padrões de normas sociais e a visão da sociedade sobre as pessoas que não seguem esses padrões. Stieg utiliza a mídia que cobre o caso do triplo homicídio como exemplo para ilustrar o preconceito que toda sociedade possui. Lisbeth passará a ser a suspeita perfeita, pois não segue os padrões estabelecidos para o convívio social, portanto será apresentada aos espectadores como louca, psicótica, perigosa e maníaca.

Ironicamente, apesar de sofrer sérios traumas durante a infância e criar um modo de proteção contra a sociedade que a abandonou quando solicitou por ajuda, Lisbeth mostra ser a pessoa mais ética e moralmente correta no enredo. Claro, seguindo sua ética e seu padrão de moralidade, mas ainda assim, nota-se que ela é a "mocinha" da história concretamente, pois o bem e o mal são separados por uma linha tênue na narrativa de Stieg Larsson.

No entanto, não importa o que se é sabido dela como, por exemplo, sua inteligência acima da média, seu conhecimento por computadores e invasão de sistemas, seu hobby em resolver equações complexas de matemática. O que realmente é levado em consideração é o que se pensa dela, como os outros a enxergam (e quando digo "outros" refiro-me a maioria, já que Mikael e tantos mais afirmam o tempo todo que Lisbeth não é louca e sim brilhante, um gênio).

A trama nos faz levantar questionamentos sobre o papel da sociedade perante a um esteriótipo pré-estabelecido no caso de que uma situação "x" ocorra, ou seja, tomando, por exemplo, a trama de Lisbeth, por ela ser fechada, não gostar de falar de si, não confiar em qualquer autoridade e não ter convívio social padrão (percebam que não estou nem mencionando a maneira de Lisbeth se vestir), ela é rotulada como uma sociopata e veste a fantasia perfeita de assassina a sangue frio, que será difundida e vendia facilmente pela mídia sensacionalista.

É assombrosa a resposta que se tem da pergunta mais inquietante do enredo: Lisbeth, por ter realmente problemas psicológicos, abandonou a sociedade ou a sociedade, por toda corrupção e negligência que ofereceu a garota, abandonou Lisbeth? A Menina Que Brincava Com Fogo é um livro intenso, com uma aura misteriosa e intrigante, cheio de críticas à sociedade, seus padrões sociais, a corrupção generalizada e a mídia sensacionalista. É a narrativa que vai mudar o seu jeito de enxergar as imposições do sistema e quando você terminar de lê-lo, duvido que não comece o terceiro volume imediatamente.

Postado por Barbara Novaes

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