#SérieDoMês: Uma heroína antissocial e uma herança ideológica.

02:14

Olá, pessoal!

Como explicado no post de apresentação do blog, toda a sexta durante o mês nós iremos apresentar um especial de séries. Essas séries serão escolhidas por nós, porém, é claro, vocês poderão sugerir quais sequências literárias querem ver nesse especial.

A série do mês será composta por publicações do universo das sagas, sejam elas sobre adaptações cinematográficas, resenhas dos livros, análises de capas, entre outros. Afinal, livro aqui é só um pretexto para se falar sobre tudo!

Nesse mês de estréia, a série escolhida para inaugurar o Refração Cultural é Millennium. Segue abaixo a primeira resenha sobre o primeiro livro da série. Aos que já leram, deixem seus comentários sobre o que acharam e aos que ainda não tiveram a oportunidade, vai aí a primeira dica do Refração para vocês.



Título: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2005
Avaliação: 4/5 primas


Os Homens Que Não Amavam As Mulheres é o primeiro livro da trilogia Millennium escrita pelo jornalista sueco Stieg Larsson. O enredo acompanha a história do jornalista econômico Mikael Blomkvist e a hacker Lisbeth Salander em uma investigação para descobrir o desaparecimento e possível assassinato de Harriet Vanger, sobrinha-neta do magnata Henrik Vanger.

A narrativa se inicia com Mikael sendo condenado por difamação após publicar uma matéria denunciando um financista na revista Millennium - a qual Blomkvist também é um dos donos. É nesse cenário que o ex-patriarca Henrik Vanger entra em contato com o jornalista para conversarem sobre um possível trabalho.

Em uma festa de família nos anos 60, a herdeira do império Vanger, Harriet, desaparece sem deixar rastros da ilha em que a família vive. Após 40 anos, torna-se uma obsessão de Henrik descobrir o paradeiro da sobrinha-neta ou desvendar seu suposto assassinato. Portanto, o empresário contrata Mikael, sob o pretexto de escrever uma biografia sobre a família Vanger, para investigar o caso de Harriet.

É durante a investigação que Blomkvist acaba conhecendo Lisbeth Salander, uma hacker contratada por Henrik para fazer uma pesquisa sobre a vida de Mikael. Até o encontro entre Mikael e Lisbeth, as histórias deles são relatadas paralelamente durante a narrativa. Juntos, então, os dois protagonistas começam a desvendar os segredos mais obscuros de toda a família Vanger em busca do paradeiro de Harriet.



Capa do livro "Os Homens Que Não Amavam As Mulheres"

A obra tem um arco narrativo fechado, ou seja, a história se concretiza no mesmo livro, não sendo necessário ler os demais para se chegar a uma conclusão. O livro é cheio de clichês de romances policiais: Um grande mistério a ser desvendado, os detetives, as cenas de tensões, grandes descobertas e a conclusão do mistério no final do livro. Mas o grande diferencial de Larsson é a luta contra a ideologia. Sim, a narrativa é uma crítica clara e aberta para toda a sociedade machista. Stieg em vida foi um grande ativista e crítico da extrema direita na Suécia. Utilizou seu livro para combater o feminicídio, o tráfico de mulheres, a violência doméstica, o nazismo, o facismo e o fanatismo religioso.

Além disso, o que torna o enredo de Larsson diferente dos outros romances policiais é a construção dos personagens. O autor desenvolve suas personalidades de maneira altamente descritiva, ele vai criando uma minibiografia para, só depois de algumas páginas de descrição, introduzir o personagem na narrativa. Essa característica de Stieg faz com que o leitor conheça profundamente cada personagem apresentado e entenda suas atitudes e reações no decorrer da história. Será ela, também, a responsável pela quebra de esteriótipos, ou seja, o mocinho da história não é o heroí, a garota estranha é bem mais complexa do que todos pensam, entre outros.

Falando em personagens, não poderia deixar de falar sobre a estrela da série: Lisbeth Salander. Ela é, de longe, a personagem mais cativante de todo o enredo. Stieg conseguiu criar uma aura misteriosa sobre Salander e mostrar literalmente como as aparências enganam. Larsson chega a ser totalmente indiscreto e nos conta tanto sobre Lisbeth que é possível criar um perfil psicológico detalhado sobre ela. São várias as informações para nos apresentar a nossa heroína que é fácil o leitor se ver envolvido e fascinado com essa garota diferente. E isso basta para deixar para trás qualquer outro personagem do livro.

Outra questão a ser apontada é a apresentação de fatos verídicos na história. No decorrer da narrativa, Larsson irá apresentar fatos políticos, históricos e econômicos reais da Suécia. São informações que o autor vai entrelaçando com o enredo para gerar algum contexto histórico para a obra. É importante ressaltar que Stieg segue uma escrita descritiva e detalhada até mesmo sobre os locais em que as cenas ocorrem. São vários personagens e lugares, todos com nomes suecos. Se sentir perdido em meio a leitura é uma coisa natural, já que os nomes desses personagens e locais são quase impossíveis de se pronunciar e, consequentemente, lembrar-se deles.

Esse tipo de descrição ou até mesmo a introdução de algumas partes sobre os fatos históricos suecos empregados por Larsson chegam a ser cansativos e a pesar no enredo, o que deixou a leitura um tanto arrastada e alguns trechos até considerados desnecessários.

Vale mencionar, também, que por se tratar de um enredo policial, cheio de críticas e quebra de paradigmas contra uma sociedade machista e feminicida, algumas cenas descritas no livro contém extrema violência, agressões, assassinatos e até relatos de estupros.

Uma hacker, um jornalista, um velho magnata, um desaparecimento e um legado ideológico é a receita perfeita de Os Homens Que Não Amavam As Mulheres. Um enredo envolvente, surpreendente e original, personagens memoráveis e uma crítica social sem igual faz valer a pena a leitura de suas 528 páginas.

Postado por Barbara Novaes


You Might Also Like

0 comentários

O que achou? Deixe seu comentário! :)
Obrigado por nos visitar

Refração Cultural no Facebook

Refração Cultural no Twitter

Subscribe